Wednesday, January 31, 2007

Sinfonia de Paris

A falta de discrição de Sinfonia de Paris é maravilhosa. Um filme bom é feito de muita azeitona na empada, digo, no caso desse musical, contrate uma das maiores estrelas de Hollywood (Gene Kelly) e um de seus maiores diretores (Vicent Minelli). Até aí, tudo bem, mas o pulo do gato é sonoro: não contrate um sujeito pra criar as músicas do filme, simplesmente compre as músicas do maior compositor americano do século XX que eles conheciam até então (o filme é de 1951). Todas as canções do filme são de Gershwin, se você não gosta de Gershwin, ou você é surdo ou é uma encarnação do capeta. A personagem francesa do filme diz que Fascinating Rhythm não é música e percebam como o cara não é só francês mas ele também rouba a namorada do Gene Kelly.


Gene Kelly considera esse o filme mais legal que ele fez. Logo, ele acha Sinfonia de Paris MELHOR do que Cantando na Chuva. O Gene Kelly não é bobo, apesar de eu discordar milimetricamente da sua opinião. Afinal, o próprio está pegando fogo nesse filme, ele dança com velhinhas, com crianças e canta em francês, algo que ele repetirá depois no filme mais gracioso da história e o mais deliciosamente mal coreografado: Duas garotas românticas.


E se você conhece a composição An American in Paris e sabe que ela tem, sei lá, uns 18 minutos de música, espere até o final do filme, que é, em termos de dança, música, direção, direção de arte e fotografia, a cena de musical mais impressionante que eu já vi na minha vida.

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Tuesday, January 23, 2007

Babel


Apesar da metáfora da Torre de Babel ilustrar a falta de comunicação entre os homens por causa das diferentes línguas, Iñárritu na verdade investiga razões mais profundas para o desentendimento entre os homens.

Ao colocar suas diversas e heterogêneas personagens num mundo globalizado e concomitante, o cineasta mexicano nos revela pessoas com vontades, sentimentos, políticas e preconceitos diversos, o que leva este universo global a sofrer um abalo. Fosse o filme uma comédia de erros, a inocência das crianças marroquinas com o uso de um rifle desencadearia um terremoto de risos. Porém, como estamos no reino da tragédia, este simples ato causa problemas internos e de relações das personagens. Para a nossa infelicidade, o mundo não funciona com regras fixas e, como tudo pode ser pior, nosso “destino” não está somente em nossas mãos; ele está à revelia de nossos amores, familiares, conhecidos e, principalmente, desconhecidos, tanto o guia marroquino de Brad Pitt quanto o pai rico de Rikko Kikuchi.

Infelizmente, em Babel, (e este talvez seja um grande defeito) apenas os mais abastados se safam. Porém uma de suas qualidades é que, como numa boa tragédia, nós, humanos com vontades, sentimentos, políticas e preconceitos diversos, carregamos as marcas para sempre.

Friday, January 19, 2007

Diamante de Sangue

Edward Zwick - diretor de Diamante de Sangue - precisa de novos ares. Seu novo filme segue a mesma estrutura de seu filme anterior - O Último Samurai - e é por seguir a mesma estrutura do anterior que ele comete os mesmos erros.

Ainda assim o filme começa interessante: o personagem Danny (Leonardo di Caprio) se posta como o homem branco que pouco se interessa pelas questões africanas e Solomon é o africano que sofre pela guerra ocasionada pela briga sobre diamantes da qual Danny é um colaborador. Quando os dois entram em contato, um por sua família e o outro pelo diamante, a história cria uma interessante ligação para os dois. A força do filme - que durante até mais ou menos 45 minutos de projeção - reside no fato de dois interesses opostos estarem jogados no mesmo conflito histórico. A melhor cena (e última boa) é a que Danny tenta convencer Solomon a ajudá-lo a recuperar o diamente rosado em meio ao ataque da F.U.R. a Freetown.

Porém, a partir daí, Zwick cai no erro da auto-indulgência: toda vez que ele precisa recriar o interesse do espectador no filme, ele insere o conflito histórico em cena novamente (com tiros que parecem cair do céu como uma bala perdida). O filme entra na chave do melodrama e a África vira apenas um lugar selvagem o qual as personagens têm que sair rápido senão estarão mortas. O final, inclusive, é quase uma moral da história e tem praticamente o mesmo sentido que o final de O Último Samurai. Como o anterior, Diamante de Sangue vira um dramalhão a partir do segundo ato e o final - feito para chorar - é tão meloso que varia inveja a Willy Wonka.

Agora, uma coisa que eu achei que nunca diria na vida: o ingresso de Diamante de Sangue vale só por causa do Léozinho. Depois de passar pela mão de dois grandes diretores (todos falam de sua parceria com Scorsese, mas não podemos esquecer que ele teve uma boa passagem pelas mãos de Spielberg também), ele finalmente virou um bom ator.

Monday, January 15, 2007

Mais Estranho que a Ficção

Um filme feito de sacadas é um filme feito de sacadas: 99% de chances de ficar nisso e ser uma bosta de filme, a não ser que você eventualmente seja um Kaufmann da vida.


Mais Estranho que a Ficção até que tenta sair disso, mas não consegue. Não chega a ser uma bosta, mas também não é do caralho. Os atores são ótimos, não só os obviamente elogiáveis Emma Thompson e Dustin Hoffmann (caralhudo), como também os emergentes Will Ferrell e Queen Latifah. A direção é a afetada de sempre nesse tipo de filme, vide o pior filme do Kaufmann, aquele Brilho eterno de uma mente sem lembrança.


Mas o que te deixa na mão é, no caso, o roteiro. O argumento é simples e gracioso: um cara (Will Ferrell) começa a ouvir uma mulher (Emma Thompson) narrando a sua vida detalhadamente, se dando conta de que ele é personagem de um livro, pra isso ele pede ajuda de um professor universitário de literatura (Dustin Hoffmann), para descobrir quem é essa mulher. Infelizmente, toda essa grande sacada vai pro brejo quando o folgado do roteirista inventa personagens incoerentes e motivações fracas. Às vezes o filme se encontra, em especial nas cenas em que Dustin Hoffmann e Will Ferrell tentam desvendar o gênero do tal livro baseado nos acontecimentos relatados pelo segundo. O final do filme, que inclui uma avaliação negativa do professor de literatura em relação à qualidade do livro é o seu momento mais metalingüístico, porque o pior de Mais Estranho que a Ficção é, com certeza, os seus últimos 15 minutos.

Thursday, January 11, 2007

E.T. - O Extraterrestre


Quem nunca viu E.T. quando era criança? Pois, revê-lo é um ato de cidadania e faz muito bem para o espírito infantil que insiste em existir dentro de cada um. O filme é do caralho em diversos sentidos.

Primeiro, ele está com as crianças e elas não são as crianças clássicas do cinema. Não são coitadinhos, não são burros, não são bobolóides que soltam frases de efeito enquanto estão tímidas e fazem aquela carinha sapeca para que os adultos fiquem pensando 'ai, que lindinhos!'. Em E.T., Elliot e seus irmãos têm problemas, fantasias e sentimentos como qualquer pessoa normal e seu conflito principal - ajudar o pobre E.T. a voltar para casa - leva-os a criar soluções para a própria vida e sua relação com a mãe pouco participativa e o pai ausente em viagem com a atual namorada para o México. Essas crianças são pessoas de verdade e isso é um mérito desse filme (por isso, mesmo na maior parte do tempo a câmera está no nível da criança realçando o ponto de vista de Elliot e seus irmãos e dando-lhes o poder das decisões).

E o mais importante é que o filme é muito, muito, muito, muito, muito, muito emocionante. E.T. é daqueles filmes que tocam nos sentimentos dos espectadores tanto para o riso quanto para a dor. Como não rir quando o E.T. se embebeda e graciosamente faz uma grande bagunça na casa? E a aflição para descobrir o segredo sobre o homem das chaves? Quem não sente arrepios quando, fugindo dos agentes do governo, o E.T. faz a bicicleta de Elliot sobrevoar a floresta? Aliás, quem não chora na despedida do menino e seu amigo de outro planeta?

São por filmes bons assim que dá vontade de ver mais filmes assim, que tentam emocionar, tocar as pessoas durante a projeção e deixar sua marca nelas paratodossempre. Este está na lista do meu top 10 de todos os tempos e sei disso porque me achava vacinado contra chorar em filmes, mas estava enganado. Com este não tem vacina, droga, remédios, supositório ou emplasto que segure: é emocção na certa.

E para os detratores do cinema de Spielberg: uma eventual relação entre o famoso dedo do E.T. que cura o machucado no dedo de Elliot - e, a partir daí, um sente o que o outro sente - com A criação de Adão, de Michelangelo, não é mera coincidência. Ah! Puta que pariu! Quem não gosta de Spielberg tem que se fuder.

Saturday, January 06, 2007

Mr. Smith Goes To Washington

Há uns 5 minutos atrás eu terminei de ver um filme do Frank Capra, meu novo vício. Mr. Smith Goes to Washington conta a história de um jovem chefe de escoteiros que vira senador e se mete em um monte de encrenca. O jovem senador é interpretado por James Stewart, que você já deveria saber que é um puta dum ator. Não bastasse ele, a gente tem também uma mulherzinha chamada Jean Arthur, muito a frente das outras atrizes de sua época. Prova disso é a cena em que ela, bêbada, confessa a um velho amigo estar apaixonada pelo senador.


Frank Capra é um cara bem americano, do nível que fica bastante enjoativo. Esse filme, não fosse a sua qualidade formal, seria bastante chato. Contudo, esse cineasta que adora contar história de pequenos milagres, te faz torcer pelo protagonista e, porque não, se emocionar na cena em que ele, pela primeira vez, visita os monumentos de Washington. A emoção não é produto da empatia que eu crio com seu patriotismo, mas sim com a conquista de um objetivo, seja ela qual for, culminando, no caso, no pequeno instante em que um garoto, segurando a mão do pai, lê o texto patriótico e o jovem senador vê naquilo a relação dele com seu próprio pai.


Do caralho.