Tuesday, February 06, 2007

Janela Indiscreta

É perigoso (e deveras difícil) escrever sobre Janela Indiscreta. Esta obra-prima é arte cinematográfica em toda sua extensão. O interesante agora é notar como este filme é um compendium da arte hitchcockiana.

Janela Indiscreta
tem o suspense cotidiano próprio de Hitchcock, com um caso que acontece num cortiço; o humor negro no tratamento das construções dramáticas, como a enfermeira que passa gradualmente a se interessar pela paranóia de Jeff ou no retrato dado aos vizinhos; o voyeurismo, presente em diversos de seus filmes e inerente a seu cinema como se mostrasse a essência do cinema como um todo; e o principal: a discussão sobre a manipulação da imagem, discurso este que se mostra mais essencial, posteriormente, em Um corpo que cai, mas já aponta um longo caminho aqui. Ao trabalhar com imagens, Jeff não vê o mundo como todos. O tédio de ficar preso em um apartamento, misturado ao poder da imagem, faz com que Jeff distorça aquilo que qualquer um veria com grande naturalidade ou nem prestaria atenção. Hitchcock constrói tudo isso com maestria para nos criar a dúvida da própria imagem do filme, afinal, vimos tão e somente o que viu o protagonista. Duvidamos ou acreditamos tanto quanto ele. Ao final, Hitchcock, na maior ironia do filme, mostra que Jeff tinha razão e que imagens talvez digam muito mais o que vemos, mesmo que pareça um grande absurdo.

Esse projeto auto-referente de Hitchcock quanto ao cinema nos alerta para a grandeza da imagem e para o mal que sua manipulação pode causar ao olhos mais desavisados.

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