Thursday, August 02, 2007

Harry Potter e a Ordem da Fênix

Este quinto filme da série Harry Potter já dá a dica: o fôlego está acabando.

Tudo é desconjuntado, não se desenvolve, o vilão (aquele que não podemos falar) é muito fraco - apesar do ator ser genial - e o bom elenco se perde neste amontoado de coisa mal começadas e mal resolvidas.

Mas o maior problema mesmo é o Voldemorte. Já se foram dois filmes e ele ainda não mostrou a que veio. Matou um moleque fracote no quarto filme e só. Ralph Fiennes se vira para ser mau, porém o personagem até agora não provou que pode vencer um adolescente com hormônios e à flor da pele. Quanto maior o obstáculo, melhor será o protagonista; essa os roteiristas dos dois últimos filmes esqueceram.

Bem, os livros de Potter ficam cada vez maiores e os filmes cada vez mais desconjuntados, claramente alvos de adaptações dispostas a explicar tudo, sem jogo, sem desafio, como Voldemort parece ser nos filmes.

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Sunday, June 03, 2007

Zodíaco

O filme Zodíaco, como o nome diz, fala do famoso assassino do Zodíaco, que aterrorizou os Estados Unidos na década de 1960.

Outro filme trata do mesmo assunto, e é Dirty Harry (Perseguidor Implacável). Esse filme é ironizado em Zodíaco algumas vezes, incluindo uma cena em que os personagens vão a sala de cinema assistir à estréia do filme.

Curiosamente, esses dois filmes têm protagonistas completamente opostos, mas que se deparam com o mesmo problema: a dificuldade de encontrar um vilão diante da burocracia da polícia.

De qualquer forma, é um filme que vale a pena, esse David Fincher é bacana.

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Wednesday, May 30, 2007

Baixio das Bestas

O novo filme de Cláudio Assis é chocante, mas acima de tudo é didático demais. Entretanto, se digo que é didático não é que as personagens falam o que pensam o tempo todo (exceto pela cena em que Matheus Nachtergaele discursa olhando para a câmera) e sim porque o universo de Assis é construído às claras, sem jogo, explicito, sem desafios para o espectador. O cinema propriamente dito em Baixio das Bestas não é desafiador; é pobre, educativo, moralista, não há participação do espectador, somente afastamento.

Assis trava uma luta com o espectador, dando uma seqüência de socos, um atrás do outro sem parar. O espectador indefeso ou abandona o filme ou sai de uma experiência atordoante no pior dos sentidos. Não que o conteúdo de sexo e violência sejam insuportáveis, mas porque as simplificações e o tratamento audiovisual é do mais primário. Assis não tenta ser profundo ou desafiador e sua linguagem é exatamente essa: todas as ações do filme são rodadas no plano geral sem cortes e com a luz estetizante de Walter Carvalho com falas ensaiadas saídas da boca do realizador. O filme é Cláudio Assis em carne e osso. Não confundir isso com contundência ou sinceridade. É didatismo puro; tudo tem que estar às claras, explicado, mamão com açúcar: todos são escrotos e quem não o é não tem vez nesse mundo. Assim, sem jogo com o espectador e com uma pretensa profundidade estética/cinematográfica.

Com essa crença no choque como estética, Cláudio Assis mostra que o didatismo existe tanto no filme comercial quanto naquele que entra no forno com a pretensão de obra-prima. A verdadeira obra de arte se mostra quando a luz apaga e as imagens se mostram na tela. Este é o calcanhar de Aquiles do cinema brasileiro atual: quando se vê os filmes, há muito Baixio das Bestas e pouca arte.

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Monday, May 28, 2007

Homem-Aranha 3

Homem-Aranha 3 com todo seu melodrama artificial é uma afronta às HQs. Nada poderia ser mais distante do que isso. É um dramalhão de novela recheado com algumas cenas de ação que em nada acrescentam aquelas do segundo filme - um primor em ação. Acredito que Homem-Aranha faz jus às recentes adaptações de HQs que pouco reproduzem aquilo que o quadrinho tem de melhor - a excessão é Sin City, mesmo com seus defeitos narrativos é o que melhor chegou ao clima.
Fica a pergunta: por que nenhum desses diretores - Sam Raimi, Bryan Singer, Joel Schumacher entre outros - aprenderam a estrutura e o ritmo de história em quadrinhos de ação para cinema com Spielberg e seus Indiana Jones? Ainda bem que é ele - e seu mais novo amigo Peter Jackson - quem vai comandar a adaptação de Tintim para o cinema.

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Friday, May 18, 2007

Tubarão

Uma moça nada ao amanhecer numa praia de uma cidadezinha litorânea, chamando seu futuro ex-caso para acompanhá-la. Ele, bêbado, não consegue tirar a calça para entrar no mar. Debaixo d'água, algo se aproxima da moça. O rapaz cai na areia. A moça nada. Algo se aproxima. Ouvimos as notas do famoso ostinato e então a moça é pega por algo. Ela grita, mas o rapaz, caído na areia, apenas dorme. Debatendo-se contra a fera, a bela sai derrota e some na imensidão do oceano. A música pára. O rapaz dorme...
Como um criador de imagens e sons se mostra um artista cinematográfico de verdade? Assim: tirando de um ataque de tubarão diversos sentidos e sensações. Há a trivialidade de uma cena de romance adolescente após a festa; há o humor refinado do rapaz bêbado que não percebe o acontecimento, há a beleza dos enquadramentos de um belo amanhecer tenebroso e, claro, há o medo de uma criatura que sequer aparece na tela.
Esta é a beleza do cinema de Steven Spielberg: jogar com nossas sensações, usar nossas expectativas para criar sua narrativa e nos encher de emoções. Quem nunca se emocionou com E.T. ou temeu pela vida de Sam Neil em Jurassic Park quando o Tiranossauro Rex passa com sua boca a menos de dez centímetros do rosto do paleontólogo, mesmo já tendo visto esses filmes dez vezes cada um?
Tubarão é a etapa primordial desse jogo; nós esperamos pelo tubarão assasino, mas o medo é inevitável quando de sua aparição. Ao levar o expectador para a identificação, Spielberg desmembra as expectativas do público nos três personagens que saem à caça da besta: temos o medo de Roy Scheider de virar comida de peixe e a valentia de Robert Shaw para matar o animal, mas, no fundo, o que nos move é a curiosidade de Richard Dreyfuss em ver o tubarão de perto. O medo se mistura com a atração e é por isso que sempre queremos ver Tubarão. Não porque dá medo ou para saber se os caçadores vencerão o animal, mas sim porque quando vemos Tubarão - e outros tantos filmes de Spielberg - tomamos contato, dentro de nós mesmos, com o que há de mais humano, demasiado humano. E como é bom ser humano de vez em quando!

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Friday, March 30, 2007

Os 12 Trabalhos ou Como Fazer um Filme Errado

O grande problema de Os 12 Trabalhos, novo filme de Ricardo Elias, é a solenidade. Falando (ou escrevendo assim) parece que ele só tem este problema, que é grande, mas na verdade este grande problema é o filme inteiro.

Ao retratar a história do moto boy Heracles, Ricardo Elias escolheu usá-lo (e este é o termo certo) como fio condutor para retratar também outras histórias. E é aqui que entra a solenidade: durante todo o filme, Heracles sai solenemente de cena para que a câmera solenemente desfoque e faça um efeito belo efeito plástico, porém desprovido de interesse, para que uma solene voz conte a história de uma personagem que acabou de cruzar a vida do moto boy. Esta “solenidade” é a mão do cineasta que ao invés de investir na marca pessoal escondida por trás de seu protagonista (como faria Ford, Hawks ou Scorsese) resolve entrar em embate direto com ele. Nesta luta Elias versus Heracles, obviamente o cineasta vence por sua onipotência e com isso destrói o filme. Heracles não se desenvolve, não possui profundidade e seus obstáculos são facilmente transpostos, não por sua capacidade pessoal, mas sim pela fraqueza dos desafios. Isso tudo porque Elias aparece mais que Heracles e este, ao invés de um semi-Deus, vira um pequeno rato de laboratório. O cineasta, para exaltar-se, tenta destilar toda sua elegância, técnica e capacidade artística através da beleza plástica e com uma pseudo-profundidade, por vezes exagerada. Ao invés de uma história com naturalidade e simplicidade (tudo que sobra em Antônia), Elias aposta na “solenidade plástica” e destrói seu filme, deixando-o extremamente pomposo (que culmina no olhar para a câmera de Heracles na praia, numa aproximação forçosa com o sentimento da Cabíria de Fellini).

Quando o cineasta quer ser maior que sua obra, o resultado é um filme sem coração e mente como Os 12 Trabalhos. Elias se esqueceu que ainda não é um Fellini, um Antonioni, um Godard...

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Sunday, February 25, 2007

Borat

Borat é um filme maravilhoso


Não é inovador, afinal Iracema, uma transamazônica foi feito algumas décadas antes, mas ele tem o seu quê de revolucionário, ao trazer com tudo os novos conceitos de humor politicamente incorreto da televisão (Ali G,Família da Pesada, etc) para o cinema. E se você acha que isso não tem nada demais, espere ver no telão do cinema um saco escrotal chicoteando o queixo de Borat, e diga se não é impactante.


Claro que, para trazer algo a mais do que já podia ser visto na televisão, Borat optou por criar uma linha narrativa, e que foi motivo de preocupação minha antes de assistir ao filme. Contudo, as cenas ensaiadas e roteirizadas não chegam a estragar o todo, mas são bem piores que as cenas com pessoas reais.


Um filme claramente chocante, que me faz pensar como realmente Irreversível, Amarelo Manga e outras baboseiras dessas são realmente filmes de gente picareta, que vêem na polêmica o único meio de se expressar, sem levar em conta que o jeito mais ralo e simples das pessoas te ouvirem é, exatamente, sendo polêmico.


Eu posso, por exemplo, colocar aqui no blog uma foto de um cara cagando em cima da mesa de jantar da minha casa e pronto, eu sou polêmico, mas isso não faz de mim um cara talentoso. E Borat consegue fazer exatamente o contrário, já que no caso dele o talento se sobressai ao polêmico e o choque não está a serviço do choque mas de algo mais, ou, no caso, dar risada.