Friday, October 13, 2006

Dália Negra

O Cinema é a arte do duplo: o dito pelo não dito, o ser pela não existência ou pela existência de outro, a imagem por sua essência e não apenas pelo pictórico. Pois, Brian De Palma sempre teve esta temática do duplo percorrendo sua obra, até mesmo em filmes do pura entretenimento como o primeiro Missão Impossível – o melhor da série.

Entretanto, o que torna Dália Negra de especial interesse é como este ‘duplo’ perpassa todo o filme. A começar pela própria estrutura do filme: o filme inicia-se numa direção até o ponto em que se choca com o caso da dália e a partir daí, este novo caso é o fio condutor da narrativa – ou não seria?

Assim como a investigação do assassinato de Elizabeth pode ser apenas uma pista falsa para o espectador, tudo no filme trabalha para a significação de uma imagem que esconde uma essência outra: as personagens de Hartnett, Eckhart e Johansson; a semelhança entre Elizabeth e Madeleine; a família de Madeleine; o caso da dália negra; Hollywood e sua fábrica de sonho e até mesmo toda a cidade de Los Angeles, construída com madeiras reutilizadas dos estúdios de Mack Sennett. Levando o espectador pela trama com uma roupagem de filme noir, com direito a transições em cortina e contraluz divino em Scarlett Johansson, Brian De Palma discute toda a regra do jogo da indústria e mostra que na verdade Hollywood em si é uma cidade-estúdio a partir do momento em que as fronteiras entre o que é cidade e o que é cinema não estão delineadas e os policiais jogam como se fossem Bogart.

Essa reflexão sobre o passado dos filmes Brian De Palma já fazia – por exemplo em Os Intocáveis – na forma, o que sempre lhe rendeu uma fama de ‘brega’, mas que em Dália Negra está na capa e no miolo, como o mais alto Cinema é capaz de produzir.

1 Comments:

Blogger Suza said...

Achei o roteiro do Dalia Negra uma bosta. E descobri que é do mesmo cara que Guerra dos Mundos.

8:34 PM  

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