Tuesday, December 19, 2006

Casablanca

Tive a oportunidade de rever o primeiro ato de Casablanca – durante uma insônia pesada – e pude relembrar como este filme é fantástico.

Basicamente, Casablanca é um filme de cinema em seu estado mais complexo, estado este em que a conjuncão de todos os fatores (da direção à arte) estão todos no lugar. Entretanto, o que mais me agrada é como Casablanca é um filme de conflitos e tensões. Por tensões denomino todos os embates entre as personagens que se encontram nas entrelinhas, escondidos num gesto, numa fala ou num olhar. E isso Casablanca tem de monte e do bom. São tensões entre Rick e o Major Strasser, o Rick e Laszlo na primeira aparição deste no Café Americano, entre o Major e Renault, entre Renault e Laszlo, por exemplo. Estas tensões estão empregnadas nas posições em que cada personagem se senta à mesa, nos gestos à presença de seu opositor e principalmente nos diálogos, este de uma riqueza interessante no cinema clássico e que poderia ensinar muito ao “autores” de cinema que ainda não sabem “falar”.

Particularmente, a mais interessantes dessas tensões é a relação entre Rick e Renault. No início, eles são apenas conhecidos do submundo de Casablanca e um precisa do favor do outro. À medida que Rick vai amolecendo de amor por Ilsa, Renault o ajuda, porém sem complacência, apenas por interesse, até que chegamos a um dos finais mais interessantes do cinema clåssico em que Rick manda a amada para a América com seu rival Laszlo e vai embora do aeroporto com Renault, onde sai uma das inesquecíveis frases do cinema, selando a amizade entre os dois, ainda que esta seja ligeiramente ambígua e torne este final um dos primeiros exemplares de final ambíguo.

Casablanca é um belo exemplar do que o sistema de estúdio tinha de melhor, com boa dramaturgia, boa técnica e uma aula de como inserir seu momento histórico num filme. Este filme nos dá uma lição de como um conjunto de autorias ao invés de uma suposta autoria única pode realizar uma obra de força que agrade o público e mesmo assim não deixe de ser arte.

Monday, December 18, 2006

Cassino Royale

Apesar de Daniel Craig não ser o melhor do James Bonds (o Pierce Brosnan é melhor, por exemplo), Cassino Royale é, sem dúvida, um dos melhores 007s dos últimos tempos. E, apesar do que disse, Daniel Craig é, vejam só, uma ótima escolha de elenco.


Isso porque Cassino Royale é sobre como James Bond virou um agente secreto. De certo modo, a história gira em torno do cara que tem que parar de ser tão bruto e virar o bom e velho elegante 007, o que não acontece em definitivo no filme, mas cuja trajetória é traçada muito bem. E se não acabamos vendo na tela o agente que conhecemos, por outro lado, saímos do filme o compreendendo muito melhor. Ironicamente, e isso é o mais legal do filme, dessa vez o agente não acaba com o vilão numa sessão de perseguições e muita loucura, mas sim sentadinho numa mesa de poker, um jogo que, como todos sabemos, exige muito mais do encéfalo do que da sua própria sorte.


O que não quer dizer, contudo, que o filme não tenha seus momentos de pura ação, em especial a correria atrás do africano louco que saltita pelas construções. Le Chiffre, o vilão do filme, sofre de asma e chora sangue, é animal.


A bond girl não é só a gostosa do filme, mas também é pivô do desenvolvimento do James Bond encouraçado para o desencouraçado, e, por fim, do desencouraçado para o encouraçado de novo. A atriz, Eva Green, é, puta merda, caralho, porra, não sei nem o que dizer, mas, infelizmente, tem seus momentos de mau aproveitamento já que a maquiadora não sacou que a mulher fica muito mais bonita ao natural do que cheia de maquiagem.


E, também, o Q não faz aparição nenhuma nesse filme, o que dá um pouco de raiva.