Saturday, September 30, 2006

Juventude Transviada

Tem aqueles filmes que eu considero um dos melhores que eu já vi em toda minha vida. Dentre eles, alguns poucos estão entre uma categoria mais específica: a dos filmes que podem ser considerados O melhor da minha vida. Yojimbo é o melhor filme da minha vida, assim como Cantando na Chuva é o melhor filme da minha vida. Touro Indomável também é o melhor filme da minha vida. Deu pra entender o que eu estou tentando dizer, né?


Enfim, Juventude Transviada é um desses filmes. Cara, que filmão.


Todas as gerações que não acompanharam o mito que foi o James Dean precisam ver esse filme pra entender qual é o do cara. Pra minha mãe ou meu pai, por exemplo, é óbvio achar o James Dean o cara mais foda do planeta, claro, eles cresceram vendo os filmes dele. E eu que cresci vendo o Jordi cantar na Hebe, nossa, que bosta.


James Dean não só era um rapaz bonitão que criou a moda do jeans e camiseta branca, mas também era um puta dum ator. Tem uma cena que ele quer se confessar na delegacia, os pais não deixam, ele briga com os pais, manda todo mundo a merda e dá uma bica num quadro que fica todo rasgado. Bom, contando assim não tem graça nenhuma, mal aí, mas quando você for ver esse filme, preste atenção no James Dean brigando com os pais e querendo ir na delegacia, é o que eu estou tentando lhe dizer.


Nicholas Ray é o diretor desse filme. Se você viu Os Sonhadores, talvez se lembre que tem uma cena na cinemateca francesa que o triozinho do abraço discute cinema, e que o irmão gêmeo cita uma frase de Godard: "Nicholas Ray é cinema". O Godard disse isso mesmo, num artigo pro Cahiers du Cinema. Que senhor elogio, hein?


A verdade é que Nicholas Ray manda bem pra burro. E eu só tenho uma coisa a dizer sobre isso: cena do racha. O racha é um ponto de virada do filme, é um momento tenso pra caralho. Vai filmar bem assim na puta que o pariu. A primeira coisa que eu me lembro quando penso em Juventude Transviada é um plano dessa cena, um travelling que segue os carros, passando pela Natalie Wood, que imediatamente vira de costas e passa a correr junto com os carros e pára, os carros continuam numa puta velocidade e aí, você já viu, tragédia, não vou contar nada, mas a essa altura do campeonato você já deve ter percebido que alguma coisa de ruim está pra acontecer.


É claro que o fato do próprio James Dean ter morrido num acidente de carro pouco tempo depois de virar uma estrela dá o seu fator Mamonas Assassinas pro filme e o torna mais lendário ainda. Mas eu posso te garantir que ele é bom com isso ou sem isso, caso o contrário só quem tem idade pra lembrar do fato poderia aprecia-lo, e vocês viram que esse não é o caso, afinal, sou um pirralho.


Roteiro nota dez, atores nota dez, direção nota dez, mas o que vai ficar mesmo na sua cabeça a semana inteira é a música do filme, que coisa linda de Deus, uma música trágica, forte, não tem nada de jovem, pelo contrário, é uma música que poderia ser trilha de qualquer filme épico de qualidade. A questão é que o filme é isso mesmo, um moleque maduro, porém revoltado com o pai submisso, a mãe cuzona e outras injustiças da vida. E o resultado é que ele só se fode e tem que aprender a conviver com as suas próprias tragédias. A rebeldia sem causa não tem lugar nesse filme, apesar do que diz o título original.


Assistam.