Sunday, February 25, 2007

Borat

Borat é um filme maravilhoso


Não é inovador, afinal Iracema, uma transamazônica foi feito algumas décadas antes, mas ele tem o seu quê de revolucionário, ao trazer com tudo os novos conceitos de humor politicamente incorreto da televisão (Ali G,Família da Pesada, etc) para o cinema. E se você acha que isso não tem nada demais, espere ver no telão do cinema um saco escrotal chicoteando o queixo de Borat, e diga se não é impactante.


Claro que, para trazer algo a mais do que já podia ser visto na televisão, Borat optou por criar uma linha narrativa, e que foi motivo de preocupação minha antes de assistir ao filme. Contudo, as cenas ensaiadas e roteirizadas não chegam a estragar o todo, mas são bem piores que as cenas com pessoas reais.


Um filme claramente chocante, que me faz pensar como realmente Irreversível, Amarelo Manga e outras baboseiras dessas são realmente filmes de gente picareta, que vêem na polêmica o único meio de se expressar, sem levar em conta que o jeito mais ralo e simples das pessoas te ouvirem é, exatamente, sendo polêmico.


Eu posso, por exemplo, colocar aqui no blog uma foto de um cara cagando em cima da mesa de jantar da minha casa e pronto, eu sou polêmico, mas isso não faz de mim um cara talentoso. E Borat consegue fazer exatamente o contrário, já que no caso dele o talento se sobressai ao polêmico e o choque não está a serviço do choque mas de algo mais, ou, no caso, dar risada.

Wednesday, February 14, 2007

Antônia

Vi Antônia no Cinemark e só tinha eu no cinema, de modo que, se quisesse, poderia soltar um pum na sala e ninguém ia reclamar.


Muito bem dirigido por Tata Amaral, o filme conta a história do grupinho musical de minas da Brasilândia. Ele têm as mesmas frescuras temáticas/estéticas que são a moda do cinema paulista e tem como principal referência Cidade de Deus. Por incressa que parível, eu compactuo com tudo isso, desde que seja bem feito.


E Antônia tem quase tudo lá: uma boa montadora, boa luz, bom som, algumas cenas excelentes com mérito da direção e da atuação (o pesadelo da garotinha), alguns ótimos não-atores (Thaíde, que entra na classificação de adorável canastrão, como Clint Eastwood e Alec Bladwin). É possível afirmar, inclusive, que a Brasilândia de Tata Amaral é muito mais cativante que a Cidade de Deus de Meireles.


Só que Antônia não é Cidade de Deus porque falta no primeiro, e sobra no segundo, força dramática. Em Antônia nada se desenvolve, as coisas simplesmente acontecem. Você pode contra-argumentar dizendo que a vida real é assim, mas já aprendemos que, nesse quesito, a vida real é extremamente desinteressante.

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À procura da felicidade

Filmes para estrelas são muito comuns, mas poucas vezes estes não passam autopromoção para seus – às vezes produtores – atores. Sr. e Sra. Smith é um exemplo claro de filme que poderia ter sido e que não foi porque as estrelas não se importaram muito com o teor e o cuidado do filme.

A Will Smith podemos fazer qualquer crítica negativa quanto à personalidade a qual ele se impôs, porém não podemos negar que este, após o fracasso estético/público de As loucas aventuras de James West, se tornou um ator mais seletivo quanto a seus projetos. Com isso, ele se preserva e pode, de quando em quando, fazer algo como À procura da felicidade.

O filme é o clássico mamão com açúcar da ascensão social estadunidense. Um homem que quer ser rico e dar uma vida melhor para seu filho. Como em um melodrama que se preze, ele sofrerá tudo quanto for possível e terá que lutar bravamente contra o destino. Direção e roteiro caminham nesse sentido de sádico quanto ao personagem e não passam do tratamento burocrático e básico no filme.

É aqui que entra o produtor-ator Will Smith e dá ao filme uma graça interessante. Sua atuação transita entre a fraqueza e o heroísmo; suas expressões sempre nos deixam com a dúvida se este homem pode realmente suportar tudo isto. Apesar de a história em si nunca questionar a capacidade do protagonista (vide que ele consegue montar um cubo mágico em vinte minutos), Will Smith é quem mantém o interesse do espectador nessa lutada personagem. No final, somos presenteados com uma das melhores atuações de 2006, por um ator que não é tão credibilitado nos meios mais eruditos da crítica.

Se escrevi há algum tempo que Diamante de sangue vale por DiCaprio, agora termino dizendo que À procura da felicidade vale por muito mais por Will Smith.

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Tuesday, February 06, 2007

Janela Indiscreta

É perigoso (e deveras difícil) escrever sobre Janela Indiscreta. Esta obra-prima é arte cinematográfica em toda sua extensão. O interesante agora é notar como este filme é um compendium da arte hitchcockiana.

Janela Indiscreta
tem o suspense cotidiano próprio de Hitchcock, com um caso que acontece num cortiço; o humor negro no tratamento das construções dramáticas, como a enfermeira que passa gradualmente a se interessar pela paranóia de Jeff ou no retrato dado aos vizinhos; o voyeurismo, presente em diversos de seus filmes e inerente a seu cinema como se mostrasse a essência do cinema como um todo; e o principal: a discussão sobre a manipulação da imagem, discurso este que se mostra mais essencial, posteriormente, em Um corpo que cai, mas já aponta um longo caminho aqui. Ao trabalhar com imagens, Jeff não vê o mundo como todos. O tédio de ficar preso em um apartamento, misturado ao poder da imagem, faz com que Jeff distorça aquilo que qualquer um veria com grande naturalidade ou nem prestaria atenção. Hitchcock constrói tudo isso com maestria para nos criar a dúvida da própria imagem do filme, afinal, vimos tão e somente o que viu o protagonista. Duvidamos ou acreditamos tanto quanto ele. Ao final, Hitchcock, na maior ironia do filme, mostra que Jeff tinha razão e que imagens talvez digam muito mais o que vemos, mesmo que pareça um grande absurdo.

Esse projeto auto-referente de Hitchcock quanto ao cinema nos alerta para a grandeza da imagem e para o mal que sua manipulação pode causar ao olhos mais desavisados.

Monday, February 05, 2007

Sob o domínio do medo

Sob o domínio do medo vale pela meia hora final. O resto do filme parece ser basicamente a preparação do caos que se instaura no final dele.


Sam Peckinpah, o coreógrafo da violência, filma sem nenhuma sutileza e com muita câmera lenta a invasão na casa da personagem de Dustin Hoffman. Pra quem já viu, no começo do filme, um gato morto pendurado no armário e um duplo-estupro, pode achar que está preparado pra qualquer coisa a partir de então, o que não é verdade.


Tudo acontece nessa última hora, os conflitos se resolvem, os personagens se transformam, fora o monte de gente morrendo com óleo quente na cara e com tiros de espingarda. Tudo, obviamente, muito bem filmado, muito bem montado.


A cidade interiorana e o fog londrino, que sempre é visto com um certo lirismo, aqui é a causa de um clima bastante tenebroso.


Que meda!

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Sunday, February 04, 2007

Vidas Amargas

Toda vez que alguém vê um filme com o James Dean, Stanislavski se revira na cova e a gente diz: "vai se revirando aí porque isso daqui é do caralho".


Às vezes, o James Dean parece uma criança (na roda-gigante com a cunhada), às vezes ele parece estar bêbado mesmo não estando (quando ele pede o dinheiro que lhe devem da plantação de feijão), de vez em quando ele é mais contido e vez ou outra ele encarna um animal qualquer, um babuíno, um tigre, um periquito, sei lá.


De qualquer forma, aquela cara contraída dele nos revela que dentro do seu cocoruto tá sempre rolando uma ferveção. O que devia passar na cabeça desse filho da puta? Seu jeito não lembra um Miles Davis, por exemplo?


Para retratar James Dean na película, reparem como dois diretores diferentes adotam uma estética expressionista. Tanto Nicholas Ray, em Juventude Transviada, como Elia Kazan em Vidas Amargas usam o enquadramento torto, o superenquadramento, subjetiva do James Dean deitado de ponta cabeça no sofá, sombra esticada do James Dean andando pelo corredor do bar de sua mãe, James Dean descansando em meio a cubos de gelo, James Dean se olhando no espelho mágico do parque de diversões.


Se, falando de Juventude Transviada, comentei que James Dean não é uma personalidade datada, vejam Vidas Amargas, paguem um pau pra direção do dedo-duro do Elia Kazan e bom filme pra vocês, pulhas.

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Nós que nos amávamos tanto

O Nino Manfredi deveria se chamar Nino Manfoda.

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