Wednesday, February 14, 2007

À procura da felicidade

Filmes para estrelas são muito comuns, mas poucas vezes estes não passam autopromoção para seus – às vezes produtores – atores. Sr. e Sra. Smith é um exemplo claro de filme que poderia ter sido e que não foi porque as estrelas não se importaram muito com o teor e o cuidado do filme.

A Will Smith podemos fazer qualquer crítica negativa quanto à personalidade a qual ele se impôs, porém não podemos negar que este, após o fracasso estético/público de As loucas aventuras de James West, se tornou um ator mais seletivo quanto a seus projetos. Com isso, ele se preserva e pode, de quando em quando, fazer algo como À procura da felicidade.

O filme é o clássico mamão com açúcar da ascensão social estadunidense. Um homem que quer ser rico e dar uma vida melhor para seu filho. Como em um melodrama que se preze, ele sofrerá tudo quanto for possível e terá que lutar bravamente contra o destino. Direção e roteiro caminham nesse sentido de sádico quanto ao personagem e não passam do tratamento burocrático e básico no filme.

É aqui que entra o produtor-ator Will Smith e dá ao filme uma graça interessante. Sua atuação transita entre a fraqueza e o heroísmo; suas expressões sempre nos deixam com a dúvida se este homem pode realmente suportar tudo isto. Apesar de a história em si nunca questionar a capacidade do protagonista (vide que ele consegue montar um cubo mágico em vinte minutos), Will Smith é quem mantém o interesse do espectador nessa lutada personagem. No final, somos presenteados com uma das melhores atuações de 2006, por um ator que não é tão credibilitado nos meios mais eruditos da crítica.

Se escrevi há algum tempo que Diamante de sangue vale por DiCaprio, agora termino dizendo que À procura da felicidade vale por muito mais por Will Smith.

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Tuesday, February 06, 2007

Janela Indiscreta

É perigoso (e deveras difícil) escrever sobre Janela Indiscreta. Esta obra-prima é arte cinematográfica em toda sua extensão. O interesante agora é notar como este filme é um compendium da arte hitchcockiana.

Janela Indiscreta
tem o suspense cotidiano próprio de Hitchcock, com um caso que acontece num cortiço; o humor negro no tratamento das construções dramáticas, como a enfermeira que passa gradualmente a se interessar pela paranóia de Jeff ou no retrato dado aos vizinhos; o voyeurismo, presente em diversos de seus filmes e inerente a seu cinema como se mostrasse a essência do cinema como um todo; e o principal: a discussão sobre a manipulação da imagem, discurso este que se mostra mais essencial, posteriormente, em Um corpo que cai, mas já aponta um longo caminho aqui. Ao trabalhar com imagens, Jeff não vê o mundo como todos. O tédio de ficar preso em um apartamento, misturado ao poder da imagem, faz com que Jeff distorça aquilo que qualquer um veria com grande naturalidade ou nem prestaria atenção. Hitchcock constrói tudo isso com maestria para nos criar a dúvida da própria imagem do filme, afinal, vimos tão e somente o que viu o protagonista. Duvidamos ou acreditamos tanto quanto ele. Ao final, Hitchcock, na maior ironia do filme, mostra que Jeff tinha razão e que imagens talvez digam muito mais o que vemos, mesmo que pareça um grande absurdo.

Esse projeto auto-referente de Hitchcock quanto ao cinema nos alerta para a grandeza da imagem e para o mal que sua manipulação pode causar ao olhos mais desavisados.