Thursday, August 02, 2007

Harry Potter e a Ordem da Fênix

Este quinto filme da série Harry Potter já dá a dica: o fôlego está acabando.

Tudo é desconjuntado, não se desenvolve, o vilão (aquele que não podemos falar) é muito fraco - apesar do ator ser genial - e o bom elenco se perde neste amontoado de coisa mal começadas e mal resolvidas.

Mas o maior problema mesmo é o Voldemorte. Já se foram dois filmes e ele ainda não mostrou a que veio. Matou um moleque fracote no quarto filme e só. Ralph Fiennes se vira para ser mau, porém o personagem até agora não provou que pode vencer um adolescente com hormônios e à flor da pele. Quanto maior o obstáculo, melhor será o protagonista; essa os roteiristas dos dois últimos filmes esqueceram.

Bem, os livros de Potter ficam cada vez maiores e os filmes cada vez mais desconjuntados, claramente alvos de adaptações dispostas a explicar tudo, sem jogo, sem desafio, como Voldemort parece ser nos filmes.

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Wednesday, May 30, 2007

Baixio das Bestas

O novo filme de Cláudio Assis é chocante, mas acima de tudo é didático demais. Entretanto, se digo que é didático não é que as personagens falam o que pensam o tempo todo (exceto pela cena em que Matheus Nachtergaele discursa olhando para a câmera) e sim porque o universo de Assis é construído às claras, sem jogo, explicito, sem desafios para o espectador. O cinema propriamente dito em Baixio das Bestas não é desafiador; é pobre, educativo, moralista, não há participação do espectador, somente afastamento.

Assis trava uma luta com o espectador, dando uma seqüência de socos, um atrás do outro sem parar. O espectador indefeso ou abandona o filme ou sai de uma experiência atordoante no pior dos sentidos. Não que o conteúdo de sexo e violência sejam insuportáveis, mas porque as simplificações e o tratamento audiovisual é do mais primário. Assis não tenta ser profundo ou desafiador e sua linguagem é exatamente essa: todas as ações do filme são rodadas no plano geral sem cortes e com a luz estetizante de Walter Carvalho com falas ensaiadas saídas da boca do realizador. O filme é Cláudio Assis em carne e osso. Não confundir isso com contundência ou sinceridade. É didatismo puro; tudo tem que estar às claras, explicado, mamão com açúcar: todos são escrotos e quem não o é não tem vez nesse mundo. Assim, sem jogo com o espectador e com uma pretensa profundidade estética/cinematográfica.

Com essa crença no choque como estética, Cláudio Assis mostra que o didatismo existe tanto no filme comercial quanto naquele que entra no forno com a pretensão de obra-prima. A verdadeira obra de arte se mostra quando a luz apaga e as imagens se mostram na tela. Este é o calcanhar de Aquiles do cinema brasileiro atual: quando se vê os filmes, há muito Baixio das Bestas e pouca arte.

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Monday, May 28, 2007

Homem-Aranha 3

Homem-Aranha 3 com todo seu melodrama artificial é uma afronta às HQs. Nada poderia ser mais distante do que isso. É um dramalhão de novela recheado com algumas cenas de ação que em nada acrescentam aquelas do segundo filme - um primor em ação. Acredito que Homem-Aranha faz jus às recentes adaptações de HQs que pouco reproduzem aquilo que o quadrinho tem de melhor - a excessão é Sin City, mesmo com seus defeitos narrativos é o que melhor chegou ao clima.
Fica a pergunta: por que nenhum desses diretores - Sam Raimi, Bryan Singer, Joel Schumacher entre outros - aprenderam a estrutura e o ritmo de história em quadrinhos de ação para cinema com Spielberg e seus Indiana Jones? Ainda bem que é ele - e seu mais novo amigo Peter Jackson - quem vai comandar a adaptação de Tintim para o cinema.

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Friday, May 18, 2007

Tubarão

Uma moça nada ao amanhecer numa praia de uma cidadezinha litorânea, chamando seu futuro ex-caso para acompanhá-la. Ele, bêbado, não consegue tirar a calça para entrar no mar. Debaixo d'água, algo se aproxima da moça. O rapaz cai na areia. A moça nada. Algo se aproxima. Ouvimos as notas do famoso ostinato e então a moça é pega por algo. Ela grita, mas o rapaz, caído na areia, apenas dorme. Debatendo-se contra a fera, a bela sai derrota e some na imensidão do oceano. A música pára. O rapaz dorme...
Como um criador de imagens e sons se mostra um artista cinematográfico de verdade? Assim: tirando de um ataque de tubarão diversos sentidos e sensações. Há a trivialidade de uma cena de romance adolescente após a festa; há o humor refinado do rapaz bêbado que não percebe o acontecimento, há a beleza dos enquadramentos de um belo amanhecer tenebroso e, claro, há o medo de uma criatura que sequer aparece na tela.
Esta é a beleza do cinema de Steven Spielberg: jogar com nossas sensações, usar nossas expectativas para criar sua narrativa e nos encher de emoções. Quem nunca se emocionou com E.T. ou temeu pela vida de Sam Neil em Jurassic Park quando o Tiranossauro Rex passa com sua boca a menos de dez centímetros do rosto do paleontólogo, mesmo já tendo visto esses filmes dez vezes cada um?
Tubarão é a etapa primordial desse jogo; nós esperamos pelo tubarão assasino, mas o medo é inevitável quando de sua aparição. Ao levar o expectador para a identificação, Spielberg desmembra as expectativas do público nos três personagens que saem à caça da besta: temos o medo de Roy Scheider de virar comida de peixe e a valentia de Robert Shaw para matar o animal, mas, no fundo, o que nos move é a curiosidade de Richard Dreyfuss em ver o tubarão de perto. O medo se mistura com a atração e é por isso que sempre queremos ver Tubarão. Não porque dá medo ou para saber se os caçadores vencerão o animal, mas sim porque quando vemos Tubarão - e outros tantos filmes de Spielberg - tomamos contato, dentro de nós mesmos, com o que há de mais humano, demasiado humano. E como é bom ser humano de vez em quando!

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Friday, March 30, 2007

Os 12 Trabalhos ou Como Fazer um Filme Errado

O grande problema de Os 12 Trabalhos, novo filme de Ricardo Elias, é a solenidade. Falando (ou escrevendo assim) parece que ele só tem este problema, que é grande, mas na verdade este grande problema é o filme inteiro.

Ao retratar a história do moto boy Heracles, Ricardo Elias escolheu usá-lo (e este é o termo certo) como fio condutor para retratar também outras histórias. E é aqui que entra a solenidade: durante todo o filme, Heracles sai solenemente de cena para que a câmera solenemente desfoque e faça um efeito belo efeito plástico, porém desprovido de interesse, para que uma solene voz conte a história de uma personagem que acabou de cruzar a vida do moto boy. Esta “solenidade” é a mão do cineasta que ao invés de investir na marca pessoal escondida por trás de seu protagonista (como faria Ford, Hawks ou Scorsese) resolve entrar em embate direto com ele. Nesta luta Elias versus Heracles, obviamente o cineasta vence por sua onipotência e com isso destrói o filme. Heracles não se desenvolve, não possui profundidade e seus obstáculos são facilmente transpostos, não por sua capacidade pessoal, mas sim pela fraqueza dos desafios. Isso tudo porque Elias aparece mais que Heracles e este, ao invés de um semi-Deus, vira um pequeno rato de laboratório. O cineasta, para exaltar-se, tenta destilar toda sua elegância, técnica e capacidade artística através da beleza plástica e com uma pseudo-profundidade, por vezes exagerada. Ao invés de uma história com naturalidade e simplicidade (tudo que sobra em Antônia), Elias aposta na “solenidade plástica” e destrói seu filme, deixando-o extremamente pomposo (que culmina no olhar para a câmera de Heracles na praia, numa aproximação forçosa com o sentimento da Cabíria de Fellini).

Quando o cineasta quer ser maior que sua obra, o resultado é um filme sem coração e mente como Os 12 Trabalhos. Elias se esqueceu que ainda não é um Fellini, um Antonioni, um Godard...

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Wednesday, February 14, 2007

À procura da felicidade

Filmes para estrelas são muito comuns, mas poucas vezes estes não passam autopromoção para seus – às vezes produtores – atores. Sr. e Sra. Smith é um exemplo claro de filme que poderia ter sido e que não foi porque as estrelas não se importaram muito com o teor e o cuidado do filme.

A Will Smith podemos fazer qualquer crítica negativa quanto à personalidade a qual ele se impôs, porém não podemos negar que este, após o fracasso estético/público de As loucas aventuras de James West, se tornou um ator mais seletivo quanto a seus projetos. Com isso, ele se preserva e pode, de quando em quando, fazer algo como À procura da felicidade.

O filme é o clássico mamão com açúcar da ascensão social estadunidense. Um homem que quer ser rico e dar uma vida melhor para seu filho. Como em um melodrama que se preze, ele sofrerá tudo quanto for possível e terá que lutar bravamente contra o destino. Direção e roteiro caminham nesse sentido de sádico quanto ao personagem e não passam do tratamento burocrático e básico no filme.

É aqui que entra o produtor-ator Will Smith e dá ao filme uma graça interessante. Sua atuação transita entre a fraqueza e o heroísmo; suas expressões sempre nos deixam com a dúvida se este homem pode realmente suportar tudo isto. Apesar de a história em si nunca questionar a capacidade do protagonista (vide que ele consegue montar um cubo mágico em vinte minutos), Will Smith é quem mantém o interesse do espectador nessa lutada personagem. No final, somos presenteados com uma das melhores atuações de 2006, por um ator que não é tão credibilitado nos meios mais eruditos da crítica.

Se escrevi há algum tempo que Diamante de sangue vale por DiCaprio, agora termino dizendo que À procura da felicidade vale por muito mais por Will Smith.

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Tuesday, February 06, 2007

Janela Indiscreta

É perigoso (e deveras difícil) escrever sobre Janela Indiscreta. Esta obra-prima é arte cinematográfica em toda sua extensão. O interesante agora é notar como este filme é um compendium da arte hitchcockiana.

Janela Indiscreta
tem o suspense cotidiano próprio de Hitchcock, com um caso que acontece num cortiço; o humor negro no tratamento das construções dramáticas, como a enfermeira que passa gradualmente a se interessar pela paranóia de Jeff ou no retrato dado aos vizinhos; o voyeurismo, presente em diversos de seus filmes e inerente a seu cinema como se mostrasse a essência do cinema como um todo; e o principal: a discussão sobre a manipulação da imagem, discurso este que se mostra mais essencial, posteriormente, em Um corpo que cai, mas já aponta um longo caminho aqui. Ao trabalhar com imagens, Jeff não vê o mundo como todos. O tédio de ficar preso em um apartamento, misturado ao poder da imagem, faz com que Jeff distorça aquilo que qualquer um veria com grande naturalidade ou nem prestaria atenção. Hitchcock constrói tudo isso com maestria para nos criar a dúvida da própria imagem do filme, afinal, vimos tão e somente o que viu o protagonista. Duvidamos ou acreditamos tanto quanto ele. Ao final, Hitchcock, na maior ironia do filme, mostra que Jeff tinha razão e que imagens talvez digam muito mais o que vemos, mesmo que pareça um grande absurdo.

Esse projeto auto-referente de Hitchcock quanto ao cinema nos alerta para a grandeza da imagem e para o mal que sua manipulação pode causar ao olhos mais desavisados.